terça-feira, 14 de outubro de 2014

Rio de Janeiro, 15 de Outubro de 2014

Marisa,
Não sei se lembra de quem sou, afinal faz tanto tempo desde que você se foi. Eu tinha só quatro anos e o Matheus, um. Mas você não pensou em nós em nenhum momento quando entrou naquele carro carregando suas malas naquela noite chuvosa. Parece loucura, mas eu ainda me lembra com muitos detalhes o que aconteceu naquela noite.
Eu estava tentando fazer o Matheus ficar quieto enquanto você e o papai brigavam. EU lembro de ouvir os gritos e o barrulho de coisas quebrando e achar que o mundo estava acabando.
E então os gritos ficaram mais altos conforme vocês subiam as escadas. Deixei meu irmão gritando no berço e fui atrás de vocês. Você jogava suas roupas numa mala grande enquanto gritavam coisas que não me lembro. Eu perguntava seguidamente o que estava acontecendo e vocês nada respondiam.
Então você desceu, ainda gritando e levando aquela mala junto, abriu o carro e a colocou dentro. Eu perguntei se iriamos viajar, mas você só beijou minha testa, entrou no carro e eu nunca mais te vi desde então.
Sei que poderia estar escrevendo um email ou um inbox pelo FaceBook. Mas a carta encerra um ciclo. Depois que eu aprendi a escrever, todo o dia das mães eu escrevia uma carta nunca enviada. Mas esse ano foi o último ano. Por que você não é mãe. Ao menos não de mim ou Matheus. Por que pelo que sei, casou-se de novo e teve um filho. Me pergunto se eles sabem de nós.
Mas tenho sim uma mãe. Dois anos depois que você foi embora, papai começou a namorar. Clara foi muito boa comigo e com meu irmão. Teve muita paciencia e nos tratou como filhos. Mas nunca a chamei de mãe como Matheus por estupidez, por consederar-te uma mãe.
Se tiver lido essa carta até o fim terá sido uma surpresa. Não vou mais mandar nenhuma carta, alías, nem vou mais lembrar que existe.

Adeus, Larissa