Rio de Janeiro, 15 de Outubro de 2014
Marisa,
Não sei se lembra de quem sou, afinal faz tanto tempo desde que você se foi. Eu tinha só quatro anos e o Matheus, um. Mas você não pensou em nós em nenhum momento quando entrou naquele carro carregando suas malas naquela noite chuvosa. Parece loucura, mas eu ainda me lembra com muitos detalhes o que aconteceu naquela noite.
Eu estava tentando fazer o Matheus ficar quieto enquanto você e o papai brigavam. EU lembro de ouvir os gritos e o barrulho de coisas quebrando e achar que o mundo estava acabando.
E então os gritos ficaram mais altos conforme vocês subiam as escadas. Deixei meu irmão gritando no berço e fui atrás de vocês. Você jogava suas roupas numa mala grande enquanto gritavam coisas que não me lembro. Eu perguntava seguidamente o que estava acontecendo e vocês nada respondiam.
Então você desceu, ainda gritando e levando aquela mala junto, abriu o carro e a colocou dentro. Eu perguntei se iriamos viajar, mas você só beijou minha testa, entrou no carro e eu nunca mais te vi desde então.
Sei que poderia estar escrevendo um email ou um inbox pelo FaceBook. Mas a carta encerra um ciclo. Depois que eu aprendi a escrever, todo o dia das mães eu escrevia uma carta nunca enviada. Mas esse ano foi o último ano. Por que você não é mãe. Ao menos não de mim ou Matheus. Por que pelo que sei, casou-se de novo e teve um filho. Me pergunto se eles sabem de nós.
Mas tenho sim uma mãe. Dois anos depois que você foi embora, papai começou a namorar. Clara foi muito boa comigo e com meu irmão. Teve muita paciencia e nos tratou como filhos. Mas nunca a chamei de mãe como Matheus por estupidez, por consederar-te uma mãe.
Se tiver lido essa carta até o fim terá sido uma surpresa. Não vou mais mandar nenhuma carta, alías, nem vou mais lembrar que existe.
Adeus, Larissa
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